17.2.07

INTERLIGADOS

A conexão mente e corpo é cada vez mais reconhecida como vital para a saúde.
Já se foi o tempo em que a ciência acreditava que cada parte do organismo agia independentemente das demais. Hoje, sabe-se que se uma parte do corpo não está bem, as demais sofrem com isso. Como uma cadeia em sucessão, mínimas alterações no sistema psicológico podem desencadear problemas endocrinológicos e imunológicos, provocando prejuízos à saúde. O contrário também é verdade: o estado emocional do indivíduo pode ajudar a sanar vários tipos de males.
A novidade é que a medicina moderna resolveu prestar atenção à velha máxima: "Mente sã, corpo são." A relação mente-corpo é a mais recente coqueluche do campo da saúde. Tanto o é, que foi criada uma nova área de pesquisa para analisar melhor essa ligação. Trata-se da psiconeuroimunologia, simplificada pela sigla PNI (algumas correntes preferem o termo pseudoneuroendocrinoimunologia), uma ramificação da medicina psicossomática.
O "palavrão", praticamente desconhecido pelos leigos, remete a estudos de Psicologia e Psiquiatria, que enxergam o ser humano como um todo indissociável. A PNI investiga a relação íntima entre a mente e o corpo, aprofundando-se nos mecanismos que ligam o sistema nervoso, endócrino e imunológico e suas influências na saúde física.

Efeito dominó
A princípio, essa ligação pode parecer sem sentido. O que, por exemplo, a colite- inflamação do intestino grosso (cólon), que resulta em diarréia, flatulências e dores abdominais- tem a ver com as emoções e o sistema imunológico? Tudo. Na maioria dos casos, o ponto inicial da colite é um quadro de ansiedade que desencadeia um processo que baixa a imunidade do indivíduo, fazendo com que os anticorpos do próprio organismo ataquem o cólon.
Pesquisas também apontam a ansiedade como um dos agentes motivadores da asma. Testes de avaliação revelam que o nível de estresse e ansiedade entre os asmáticos costuma ser muito mais alto, mesmo fora do período do crise. Também se observou a incidência de transtornos comportamentais e hiperatividade, principalmente em crianças.
Até mesmo o câncer tem relação com elementos emocionais negativos. Estudos feitos com pacientes de câncer de mama, melanomas e linfomas mostram que o estresse constante pode suprimir do sistema imunológico as células NK, responsáveis pela destruição das células cancerígenas. Diariamente, células do nosso corpo se desorganizam e se tornam cancerígenas. Normalmente, nosso sistema imunológico as combate. Mas quando ocorre uma queda imunológica muito grande, elas podem tomar proporções desastrosas.
A lista de males estimulados pelas emoções não pára por aí. Problemas intestinais e dermatológicos, doenças mentais, infecções latentes de vírus e bactérias, entre outros, também podem ser provocados pela estrutura psíquica negativa. Artrite reumatóide, gastrite nervosa, tireoidite, esquizofrenia, depressão, herpes bucal, lúpus eritematoso sistêmico, vitiligo, acne, queda de cabelo. Essas e mais, pelo menos, 150 doenças, podem ter sua manifestação relacionada à mente e à queda da imunidade.
Isso não quer dizer que qualquer emoção negativa irá provocar uma doença, pois os fatores biológicos não devem ser desconsiderados. O que a PNI afirma é que o estado de espírito pode desencadear males e transtornos físicos- e isso acontece com muita frequência.

Velha novidade
Apesar da roupa nova da originalidade, os estudos da integração mente e corpo são mais antigos. Há registros de manuscritos sobre o tema datados da época de ouro das civilizações assíria, grega e romana. Os médicos e filósofos da Grécia Antiga, por exemplo, observaram que as mulheres com tendência à melancolia sofriam de cólicas frequentes e contínuas. E mais: essas mesmas mulheres tinham maior facilidade para desenvolver o câncer de mama. Não à toa, o filósofo grego Aristóteles afirmou que "a psique e o corpo reagem complementando um ao outro. Uma mudança no estado da psique produz uma alteração na estrutura do corpo e o inverso leva a uma modificação no estado da psique."
Essa premissa predominou através do tempo, mas deixou de fazer sentido em meados do século 17, quando uma escola de pensamento, conhecida como psicologia das faculdades, passou a considerar a independência entre mente e corpo. Começou, então, um movimento de especializações, em que cada área buscava se aprofundar em um conhecimento específico.
Já na virada do século 20, o tema voltou à tona, com o surgimento da psicanálise. Mais adiante, entre os anos 30 e 40, a ciência pré-contemporânea observou que muitos distúrbios físicos, como a hipertensão e o câncer, podiam ser modificados ou agravados por emoções doentias. Notou-se, também, que doenças originadas por outros fatores, como a asma, podiam ter um quadro de evolução mais lento, devido ao estado emocional negativo do paciente. Atualmente, essas conclusões pertencem ao grupo de estudo das doenças psicossomáticas.
A PNI, por sua vez, surgiu como uma ramificação específica da psicossomática, destinada a estudar as reações desencadeadas pela mente, a partir do sistema imunológico. As primeiras pesquisas surgiram nas décadas de 60 e 70, baseadas na Teoria do Estresse (que estuda como episódios de estresse podem conduzir ao desequilíbrio físico). Em 1975, a área de estudos começou a tomar corpo, motivada por um relatório do psicólogo americano Robert Ader. Ele analisou como o paladar e a aversão condicionam a imunossupressão. Nos anos seguintes, os imunologistas Nickolas Cohen e David Felten somaram forças às pesquisas, descobrindo fibras nervosas que ligam o sistema nervoso ao imunológico. Surge, então, o termo psiconeuroimunologia.
Apesar de ser considerada uma ciência nova, a PNI já consegue dar passos firmes, desviando-se do ceticismo e do preconceito. Mas, cuidado: como todo campo recém-descoberto, o charlatanismo também ronda esses estudos, com uma gama de afirmações especulativas. A verdadeira ciência está em fase de expansão, embasada apenas em fatos e pesquisas.

Cura pela mente
Mas se, por um lado, as emoções negativas podem suscitar ou agravar doenças, o contrário também é verdadeiro: emoções saudáveis previnem doenças e aceleram o processo de cura. Afinal, quando tudo está em ordem com a mente, a lógica é que o mesmo aconteça com a saúde e o bem-estar. Na sequência, as doenças já presentes podem ter maior chance de cura quando o tratamento trabalha a emoção. Processos emocionais positivos alcançam resultados altamente benéficos para o organismo.
Veja, por exemplo, a artrite reumatóide, uma inflamação crônica das articulações, originada de uma combinação genética. Estudos da PNI observaram que algumas pessoas que apresentam o fator reumatóide genético (o antiimunoglobulina G) não manifestam a doença. A conclusão é de que esses indivíduos tem uma estrutura psíquica mais equilibrada, o que lhes possibilita uma influência protetora do organismo.
Outra doença dessa ordem é a dermatite atópica, uma alergia que deixa a pele ressecada e repleta de escoriações avermelhadas. Excetuando a incidência na infância, a maior parte das ocorrências em adultos também está largamente relacionada à ansiedade e a crises de estresse. Mas o tratamento, em vez de atacar o sintoma (a pele), ataca a causa (as emoções), por meio de medicamentos tranquilizantes ou calmantes naturais.
No caso do câncer, a mente também influencia na recuperação e previne o surgimento de outras metástases.
Não se trata de responsabilizar apenas a mente pela cura desse e de vários outros casos. Contudo, o que se tem observado é que o estado de espírito influencia positivamente e acelera o restabelecimento do paciente. As emoções tem condições de cura tão poderosas quanto às medicações. A fé e a esperança explicam, por exemplo, os resultados positivos alcançados com os placebos.

Saúde e religião- Ligação íntima
Acredite-se ou não na intervenção Divina na cura de doenças, a fé religiosa também tem forte ligação com a saúde humana. Há também um novo campo científico, a neuroteologia, dedicado a observar como o cérebro responde às manifestações espirituais. E os resultados corroboram essa íntima ligação.
Exemplo disso é a pesquisa publicada pelo Journal of Psychosomatic Research, relatando observações com 106 homens portadores de HIV: o organismo daqueles que seguiam alguma religião produziu maior número de células CD4, aumentando, assim, a força do sistema imunológico. Em Israel, um estudo com 3900 pessoas, durante 16 anos, concluiu que a taxa de mortalidade relacionada a cânceres e doenças cardiovasculares era 40% mais baixa entre os religiosos.
Milagre? Dá para afirmar que o ser humano se move pela crença. E essa fé, tão suscetível à fragilidade humana, tem uma capacidade de cura e equilíbrio transformadores. Portanto, diante dessa lógica, o que importa é desenvolver a fé no Deus criador- por mais anticientífico que possa parecer.

Filosofia de vida
A chave para impedir conflitos internos e manter o equilíbrio emocional está no controle da frustração. Tome como exemplo um caso clássico: uma batida de carro. O dono do automóvel, estando emocionalmente restringindo o problema àquele momento e situação, ou, então aprofundar-se nas tensões, o que irremediavelmente irá aumentar suas dificuldades, tanto de ordem física, como emocional.
Acontece que teorizar sobre o equilíbrio emocional é fácil. Mais difícil é atingir esse estado de espírito em meio às exigências da vida moderna- aliás, muito mais complexo do que os livros de auto-ajuda dão a entender. Mas não existe uma fórmula pronta. Cabe a cada pessoa descobrir em seu cotidiano a melhor forma de lidar com os problemas, vendo-os como uma etapa de aprendizado ou um desafio a ser vencido.
Há, porém, um elemento altamente positivo para a saúde mental, mas em falta na nossa sociedade: uma filosofia de vida que valha a pena. Entenda-se por filosofia de vida o sentido pelo qual vivemos, aquela sensação de que nossa jornada no mundo faz parte de algo maior. Nós substituimos a filosofia de vida pela imitação de modelos de consumo. Ser feliz, agora, depende de dirigir carros possantes, possuir avançados aparelhos de tecnologia, vestir roupas de grife, morar em uma casa de alto padrão. Se por acaso, perdermos esses bens, a essência da vida simplesmente desaparece.
Concentrar o sentido da vida no materialismo é um engano. A verdadeira filosofia de vida envolve amor, bondade, tolerância, cultivo da paz e confiança em Deus. Essa é a melhor base de apoio para a compreensão das mazelas e da crueldade do mundo. É ela que dá força para a vida, que conduz ao equilíbrio emocional e, consequentemente, à saúde física.

18 alertas para a ansiedade
O compêndio de Psiquiatria, feito pelos médicos Benjamin Sadock e Harold Kaplan, é 1 dos itens de consulta mais referendados da saúde mental. Entre outros itens, a obra lista 18 sintomas físicos relacionados à ansiedade, um mal que, se não for bem trabalhado, pode se tornar crônico. Por isso, fique atento aos sintomas. Se pelo menos 6 deles forem frequentes, procure tratamento médico ou terapêutico:
  1. Fraqueza, tremores
  2. Dores musculares ou tensão
  3. Inquietação
  4. Fadiga com movimentos leves
  5. Falta de ar constante
  6. Palpitações
  7. Sudorese, mãos frias e úmidas
  8. Boca seca
  9. Vertigens e tonturas
  10. Náuseas e vômitos
  11. Calafrios
  12. Urina com frequência e em pouca quantidade
  13. Sensação fixa de "bolo na garganta"
  14. Impaciência
  15. Sustos fáceis
  16. Dificuldade de memória e concentração
  17. Insônia
  18. Irritabilidade

2 comentários:

  1. Gostei muito do texto, vemos cada veis mais casos de instabilidade emocional causar prejuizos ao corpo. Percebo cada vez mais que a história de vida é mais importante que os sintomas em si, na busca por um alternativa de tratamento.
    Atenciosamente,

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  2. Quem se preocupa com bondade,caridade, realmente nao sofre dos males listados. Amem!

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