A fisiologia da mulher gera necessidades nutricionais especiíficas, que vão além da demanda básica de calorias e e nutrientes globais. Frequentemente, a mulher combina duas atividades exigentes: a vida profissional e a responsabilidade da casa. O estilo de vida tem seu papel em manter a saúde e aliviar sintomas perimenstruais.
A pressão social em termos de auto-imagem corporal é muito forte, e o controle de peso, incluindo dietas para emagrecimento, é frequentemente uma preocupação diária. A atividade física faz parte do estilo de vida saudável e é altamente recomendada para aliviar a maioria dos riscos de saúde específicos das mulheres: excesso de peso, osteoporose, doenças neoplásicas e cardiovasculares.
Saúde óssea
A saúde óssea é de enorme importância para todas as pessoas, mulheres e homens. Diferenças hormonais a tornam especialmente importante para as mulheres.
EVOLUÇÃO DA QUALIDADE ÓSSEA AO LONGO DA VIDA
O osso serve como uma estrutura para o corpo, como proteção dos órgãos vitais e como uma reserva metabólica de cálcio, fosfato e outros minerais em períodos de deficiência mineral. A massa óssea evolui ao longo da vida e é regulada por meio de mecanismos genéticos, mecânicos e hormonais. A aquisição mineral óssea acontece durante infância, e o pico de massa óssea é alcançado em torno dos 20 anos de idade. Enquanto o pico de masssa óssea é determinado em grande parte geneticamente (80%), fatores ambientais adicionais como nutrição e exercício físico, desempenham um papel importante. Posteriormente, em especial em torno da menopausa, ou entre os idosos, a qualidade óssea fica comprometida devido a um maior turnover ósseo, perda gradual da massa óssea, microarquitetura, estrutura e força, que levam a uma menor qualidade óssea global e ao risco de desenvolvimento de osteoporose.
REGULAÇÃO DO METABOLISMO E TURNOVER ÓSSEO
O osso é um tecido metabolicamente ativo. Pelo menos 3 órgãos são importantes na modulação do metabolismo ósseo: o intestino (absorção de cálcio), o rim (retenção de cálcio) e o próprio osso (remodelagem óssea).
Mecanismos homeostáticos, reguladores, que envolvem vitamina D, hormônio paratireoidiano e calcitonina, mantém constante o nível de cálcio no sangue para provisão adequada de todos os tecidos. Quando o cálcio sanguíneo cai abaixo de um nível crítico, o cálcio é mobilizado do reservatório ósseo pela ação da vitamina D e do hormônio paratireoidiano. Perda excessiva de cálcio do osso resulta em redução de massa e fragilização da microarquitetura óssea.
O turnover óseo é regulado em nível celualr pelo processo de remodelagem óssea. Muitas células estão presentes na medula óssea e na matriz óssea. Sua interação e regulação coordenadas são essenciais para construir e manter a massa e a microarquitetura óssea. O ossso é constantemente formado e reabsorvido nas chamadas unidades de remodelagem óssea, que envolvem as células que formam o osso (osteoblastos) e as células queo reabsorvem (osteoclastos). Durante o crescimento, a formação óssea suplanta a reabsorção, ao passo que, com a idade, e particularmente em torno da menopausa, a reabsorção óssea suplanta a formação, levando à redução da massa óssea e à fragilidade da sua microarquitetura.
OSTEOPOROSE
Como resumido pela International Osteoporosis Foundation a osteoporose é uma doença óssea silenciosa, caracterizada por baixa densidade óssea e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, que leva à fragilidade óssea e ao aumento da suscetibilidade a fraturas. Mundialmente, calcula-se que uma em cada 23 mulheres acima de 50 anos é afetada pela osteoporose. Até o ano 2050, calcula-se que uma de cada duas fraturas de quadril devidas à osteoporose acontecerá na Ásia e na América Latina. O custo direto anual de tratar fraturas osteoporóticas (ocorridas no ambiente de trabalho) apenas nos Estados Unidos, Canadá e Europa é calculado em aproximadamente US$ 48 bilhões.
Muitos fatores podem levar ao desenvolvimento de osteoporose, incluindo pico insuficiente de massa óssea alcançado durante a infância, perda óssea excessiva causada por depleção de estrógeno na menopausa, imobilização e insuficiência nutricional. A osteoporose pode até certo ponto, ser prevenida, pode ser diagnosticada facilmente, e tratamentos efetivos estão disponíveis.
A nutrição tem um papel essencial na prevenção da osteoporose. A este respeito, vários períodos são críticos na vida de uma mulher.
OS PERÍODOS CRÍTICOS DA VIDA DA MULHR COM RESPEITO À SAÚDE ÓSSEA SÃO:
Infância e puberdade
- Para atingir o pico de massa óssea, é necessária ingestão nutricional adequada de micronutrientes ósseos.
Gravidez e lactação
- Ingestão nutricional adequada de micronutrientes ósseos.
Menopausa
- O estrógeno tem papel crítico na saúde óssea. Na menopausa, as mulheres sofrem uma taxa acelerada de perda óssea. Na década seguinte, isto responde por perdas ósseas trabeculares de 20 a 30% e perdas ósseas corticais de 5 a 10%. A ausência de estrógeno aumenta o turnover ósseo: a taxa de reabsorção óssea ultrapassa a de formação, resultando em perda óssea.
Velhice
- Fragilidade óssea, talvez já osteoporótica: a recuperação após uma fratura requer micronutrientes e proteína.
ABORDAGEM NUTRICIONAL PARA FORMAÇÃO E MANUTENÇÃO ÓSSEA
A abordagem nutricional para formação e manutenção da massa óssea obedece a 2 aspectos:
- Otimizar a ingestão dietética de micronutrientes requerida para a formação óssea e manutenção dos estoques de minerais no reservatório ósseo;
- Identificar os nutrientes que ajudam a manter um processo de remodelagem óssea saudável, mantendo o equilíbrio entre a formação e a absorção nas células ósseas.
Cálcio
Componente essencial da matriz inorgânica do osso, presente como cristais de hidroxiapatita; dá estrutura e força aos ossos.
Presente no queijo, leite, amêndoa.
Fósforo
Componente essencial da matriz inorgânica do osso, presente como cristais de hidroxiapatita; dá estrutura e força aos ossos.
Presente no soja, queijo, pistache, pão integral.
Magnésio
Estabiliza os cristais de hidroxiapatita na matriz óssea, contribuindo para a força e estrutura óssea, e tem papel regulador na turnover ósseo.
Presente no feijão, amêndoa, amendoim, arroz integral, pão integral.
Zinco
Co-fator essencial para várias enzimas como a fosfatase alcalina, envolvidas na mineralização óssea e no desenvolvimento da estrutura colagenosa do osso.
Presente em sementes de milho, queijo.
Vitamina D
Regulador essencial do cálcio no soro e osso: aumenta a absorção intestinal de cálcio e sua retenção no rim e promove mineralização da matriz óssea; quando o cálcio da dieta é insuficiente, a vitamina D com o hormônio paratireoidiano mobiliza o cálcio ósseo.
Presente na ação da luz solar sobre a pele e em nozes, cogumelos.
Vitamina C
Co-fator essencial na hidroxilação de lisina e prolina durante a síntese de colágeno.
Presente em frutas, vegetais.
Vitamina K
Necessária à carboxilação das proteínas da matriz óssea durante a síntese.
Presente em couve-de-bruxelas, brócolis.
Nutrientes importantes para formação e manutenção da matriz óssea
Os minerais cálcio, fósforo, manganês e zinco, e as vitaminas D, C e K são micronutrientes importantes como componentes ósseos ou reguladores do metabolismo ósseo.
Não nutrientes que melhoram o processo de remodelagem óssea
- Fitoestrógenos: são assim chamados devido à semelhança da sua estrutura com a do estrógeno natural, estradiol-17, e sua fraca estrogenicidade. Assim, eles podem ajudar a aliviar alguns dos sintomas desagradáveis e a perda óssea associados com a supressão de estrógeno na menopausa. Fitoestrógenos são encontrados em legumes e produtos integrais. Sem dúvida a fonte mais abundante é a soja, sendo os principais compostos as isoflavonas genistina e daidzina. A ingestão dietética média de isoflavonas em populações asiáticas que consomem dietas baseadas em soja se situa em torno de 50 mg de isoflavonas/ dia. O consumo de dietas de soja é associado com muitos efeitos benéficos, que incluem: menor risco de doença cardiovascular, câncer e osteoporose, e alívio dos sintomas da menopausa. Há crescente interesse no benefício potencial de isoflavonas de soja como protetores naturais da saúde óssea, particularmente na prevenção de perda óssea pós-menopausa. Alguns estudos clíncios recentes com mulheres norte-americanas e européias na pós-menopausa mostram melhora da densidade mineral óssea, especialmente na coluna lombar, após consumo diário de 50-90 mg de isoflavonas/ dia durante 6 a 12 meses. Pesquisas atuais investigam ativamente outros flavonóides, de preferência não-hormonais, que podem melhorar a remodelagem e a densidade mineral óssea.
- Proteínas do iogurte: o iogurte é uma boa fonte de cálcio biodisponível e também uma excelente fonte de outros nutrientes. Um estudo clínico em mulheres na pré-menopausa mostrou que a Proteína Básica do Iogurte melhorou a densidade mineral óssea com uma dose de 40 mg/ dia durante 6 meses. Resumindo, para assegurar a manutenção da estrutura da matriz e prevenir perdas excessivas de Cálcio ósseo, as mulheres devem ingerir quantidades adequadas de minerais ósseos e vitaminas, em particular nas fases críticas da vida, como desenvolvimento infantil, gravidez e lactação, menopausa e velhice. Além disso, novas pesquisas com fitonutrientes e nutrientes derivados do iogurte mostram a possibilidade de melhorar o processo de remodelagem ''ossea, afetando o turnover e a microestrutura óssea. Juntas estas abordagens nutricionais devem ajudar a manter a qualidade óssea global através de melhora na densidade mineral óssea, turnover ósseo, microarquitetura e força.
Saúde cardiovascular
Embora geralmente não seja reconhecido, a doença cardíaca é, sem dúvida, a principal causa de morte de mulhres e, de homens, no mundo desenvolvido. Mulheres sofrem da doença da mesma forma que os homens, porém os fatores de risco e a idade na qual isto ocorre não são iguais aos dos homens. Assim as mulheres precissam de uma abordagem diferente para manter sua sáude e evitar a doença cardiovascular.
Em geral, as mulheres estão parcialmente mais protegidas do aumento do colesterol LDL e da doença cardiovascular que os homens pela produção do hormônio feminino estrógeno. Mas, esta proteção termina após a menopausa. Além disso, as mulheres desenvolvem outros fatores metabólicos ao longo da vida que aumentam o risco da doença. Conhecer esta diferença e a importância de controlá-las pode reduzir o risco de doença cardiovascular significativamente ao longo da vida da mulher.
COLESTEROL LDL DO SORO
É um importante fator preditivo de risco para doença cardiovascular em mulheres depois da menopausa. Com respeito à dieta, o efeito das gorduras saturadas no aumento do colesterol é bem documentado, embora meta-análises mais recentes tenham revelado que a redução de ácidos graxos saturados (e gordura total) na dieta tem efeito relativamente pequeno no risco global de doença arterial coronariana. Em contraste, dietas com baixo teor de gordura e alto teor de açúcares simples e amido promovem outras mudanças prejudiciais em lipídeos. Assim, algumas mulheres devem prestar mais atenção à qualidade das gorduras em sua dieta do que tentar procurar uma dieta com teores muito baixos de gordura. Fibras da dieta, particularmente fibras solúveis, ajudam a reduzir o colesterol LDL.
COLESTEROL HDL DO SORO
Na maioria das mulheres antes da menopausa, o estrógeno é responsável por promover níveis altos desta forma protetora do colesterol. O HDL, porém, não se encontra alto em todas as mulheres e pode ser sensível a vários aspectos da dieta. Mulheres com níveis de triglicérides altos frequentemente tem níveis reduzidos de HDL. Este se eleva pela ação de gorduras saturadas e monoinsaturadas e exercício. O HDL é reduzido pelo consumo de carboidratos simples, lipídeos poliinsaturados e gorduras trans.
TRIGLICÉRIDES VLDL DO SORO
Especialmente antes da menopausa, triglicérides do soro, parecem ter valor preditivo positivo mais seguro para doença cardiovascular que o colesterol. Os triglicérides do soro são elevados pelo excesso de peso, diabetes tipo 2, sedentarismo e dietas com alto teor de carboidratos. Os triglicérides do soro podem ser reduzidos mantendo-se o peso ideal, melhorando o controle da glicose, com exercício regular e com uma dieta equilibrada em gorduras e carboidratos.
CONTROLE DA GLICOSE
Em alguns indivíduos, o excesso de peso pode estar associado a uma condição chamada de síndrome metabólica, caracterizada por baixo clearance de glicose e resistência à insulina. Mulheres parecem ser particularmente suscetíveis a esta condição quando estão acima do peso e, em tais casos, manter o peso ideal diminue significativamente o risco.
PRESSÃO ARTERIAL
Hipertensão arterial (pressão alta) é um fator de risco significativo para homens e mulheres. Como acontece com a maioria dos fatores de risco, ela depende em parte da genética, mas também responde a dieta e estilo de vida. Um grande estudo clínico multicêntrico nos Estados Unidos sobre abordagens dietéticas para interromper a hipertensão demonstrou uma melhora dramática no controle da pressão arterial quando os indivíduos consumiam uma dieta com muitas frutas e legumes, e iogurte com baixo teor de gordura.
TABAGISMO
Mulheres tabagistas tem um risco duas vezes maior de desenvolver doença cardiovascular do que os homens. A recomendação é clara: mulheres devem buscar ajuda para evitar ou interromper o hábito de fumar.
RESUMO
Doença cardiovascular é a principal responsável pela morte de homens e mulheres no mundo desenvolvido. Embora todas as causas e fatores de risco ainda não sejam inteiramente compreendidos, as mulheres podem reduzir de forma significativa seus riscos de doença cardiovascular prematura com uma dieta saudável, mantendo um estilo de vida ativo e evitando fatores de risco, como tabagismo.
CÂNCER DE MAMA
O câncer de mama é o segundo mais comum em mulheres nos Estados Unidos. Representa 15% de todas as mortes por câncer em mulheres. A gordura da dieta foi implicada na etiologia do câncer de mama. Na realidade, nenhum nutriente isolado foi implicado. Os fatores de risco são um Índice de Massa Corporal (peso/ altura elevada ao quadrado) aumentado, em particular o componente peso, ou menarca em idade muito jovem (especialmente antes dos 12 anos).
Vários estudos investigaram o papel de nutrientes no desencadeamento ou proteção do câncer de mama. Vitaminas, antioxidantes, em especial vitamina A e a vitamina C em menor grau, parecem ter um papel protetor. É provável que frutas e legumes diminuam o risco de câncer de mama, com um possível papel de carotenóides e fibras em particular.
CÂNCER CERVICAL
Carotenóides podem ser protetores. A vitamina C parece ser protetora, mas só em fumantes. Folato, especialmente sua deficiência, poderia ter uma papel na etiologia do câncer cervical.
O consumo de carne de porco parece estar positivamente associado à incidência de câncer cervical.
CÂNCER ENDOMETRIAL
A obesidade pode contribuir para esta forma de câncer, especialmente o tecido adiposo abdominal. Um número crescente de evidências sugere que dietas com alto teor de gorduras, em especial dietas ricas em gordura animal, constituem um fator de risco. Por outro lado, é possível que o consumo regular de vegetais e frutas reduza o risco de câncer endometrial. A redução de risco poderia ser alcançada mantendo-se um peso saudável por meio de dieta e atividade física regular.
CÂNCER OVARIANO
Frutas e legumes talvez possam reduzir o risco de neoplasia ovariana.
RESUMO
Gorduras da dieta podem estar envolvidas no câncer de mama. O folato pode ajudar a prevenir o câncer cervical. A obesidade pode ser responsável pelo câncer endometrial.
Em termos de prevenção de câncer em mulheres, as recomendações gerais dos últimos anos permanecem inalteradas: manter o peso ideal diminuindo o consumo de gordura e carnes, evitar a ingestão de álcool e comer bastante frutas e legumes. A atividade física é geralmente benéfica por seu efeito redutor dos níveis sanguíneos de estrógeno, que parece ser o denominador comum em cânceres que afetam as mulheres.
Conclusão
A dieta exerce um papel fundamental na manutenção da saúde das mulheres- e também dos homens. O controle da ingestão total de calorias é essencial. A ingestão adequada de vitaminas e minerais é essencial à prevenção. Um dos mais importantes é o cálcio, que tem um papel na saúde óssea, pode ter um papel no controle do peso e parece ser um dos melhores candidatos a aliviar sintomas menstruais.
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